Mestre Arimathéa Tito Filho gostava de dizer que as cidades têm alma e jeito próprio de ser. Muitas são abertas, risonhas, francas. Outras são frias, tristes, sombrias. Com relação a Oeiras, dizia que ali respirava-se história e civismo, tendo acrescentado, certa vez, tratar-se de "chão glorioso onde jazem heróis verdadeiros." É comum também dizer-se das cidades que determinadas pessoas identificam-se com elas de tal modo que viram sua cara. Diria que nem só pessoas,mas coisas outras, como e o caso do samba com relação ao Rio de Janeiro, o que levou o compositor Zé Keti, na letra do belíssimo A Voz do Morro, a dizer: "Eu sou o samba./Sou natural aqui do Rio de Janeiro."
De Teresina pode-se dizer que, ao contrário do samba, muitos caras que são a sua cara não nasceram aqui, mas por cá mourejam há muitos anos, como Cineas Santos e Deusdeth Nunes . O primeiro é da distante Caracol. O outro, o conhecidíssimo Garrincha, de Aracati, Ceará. Exemplo marcante ainda foi o já citado Arimathéa, que era natural de Barras. Os três, na qualidade de escritores, fizeram da "cidade verde" o tema principal ou então cenário da maioria de seus escritos. Ari criou até o verbo "teresinar".
Atendo-me agora a Oeiras, são muitas as pessoas que foram,ou são,sua cara. Que dizer, há alguns anos passados, de Possidônio Nunes de Queiroz, José Nogueira Tapety, José Martins de Sá, Pedro Ferrer Mendes da Silva, Joel Piauilino Britto de Holanda Campos ,Raimundo Nonato Rêgo e muitos outros oeirenses? Bastava mencionar seus nomes para que fossem, inevitavelmente, associados à primeira capital.
E hoje em dia, pode alguém deixar de ligar a cidade a Dagoberto Carvalho Jr. (que me inclui no rol, de forma generosa), Carlos Rubem Campos Reis (Bill), Benedito Ferraz Rêgo (B. Maroca), Adelino de Sá Rocha, para ficar somente nestes,entre muitos? Deixando de lado pessoas, é possível não associar a cidade ao instrumento bandolim, às procissões, à congada, enfim, à poesia e à música? Pra mim, o grupo Bandolins de Oeiras, Os Congos e a Procissão dos Passos são a cara da cidade.
Concluindo, para alguém ser a cara de uma cidade não precisa dali ser natural. Necessário se torna uma profunda identificação, boa dose de telurismo, além de trazê-la na alma e no coração. Quanto a mim, a identificação com a velha terra é tal que nunca recebo um cumprimento, aqui em Teresina, que não venha acompanhado de um "como vai Oeiras?"
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras